terça-feira, outubro 18, 2011

Quando Perseguimos Jesus

Todos conhecem a belíssima história do apóstolo Paulo. Suas cartas, suas “aventuras”, seus debates, sua inteligência e cultura, seu temperamento forte (João Marcos que o diga), suas viagens missionárias e tantas outras coisas que revelam a importância e a influência que ele tem sido na vida da igreja cristã de todos os tempos.
Paulo sempre foi um religioso ao extremo, um homem dedicado e fiel às suas crenças, mas nem sempre foi este pilar onde boa parte de nossa teologia é sustentada. Nem sempre contribuiu com a expansão do evangelho. Por muito tempo, pelo contrário, disputou espaços e tentou aniquilar todos aqueles que confessavam Jesus como Senhor. Mas ele sempre foi um religioso notório, fiel e dedicado.
O caminho para Damasco foi eternizado na história como o lugar onde Paulo caiu do cavalo! - Não sei de onde tiram esse cavalo na história, pois em Atos 9 diz apenas que Paulo caiu, e não diz se ele estava à cavalo ou não – Uma declaração forte naquele lugar abalou todas as estruturas de vida de Paulo e mudou a sua história para sempre: “Saulo, Saulo, porque me persegues?” (Atos 9:4). Um homem de descendência judaica, crescido aos pés de um dos mentores mais reconhecidos por sua sabedoria e fidelidade à Lei (Gamaliel), fariseu dos mais dignos, ou seja, em linguagem atualizada, “um super crente” é chamado, pela luz, de um perseguidor de Jesus Cristo! Isto é até compreensível, por um lado, pois como judeu e fariseu ele não acreditava em Jesus e, exatamente por isso, perseguia a igreja (Atos 9:2).
Em sua concepção religiosa, Paulo estava cumprindo a lei e fazendo a vontade de Deus. No entanto, o que ele fazia era continuamente perseguir a Jesus Cristo, o Filho de Deus, pois o conceito religioso em que vivia não lhe permitia ver o mover de Deus e os planos de Deus através daqueles homens e mulheres, chamados cristãos, a quem ele perseguia.
Se Paulo era um religioso tão dedicado e tão bem instruído na Lei por Gamaliel e, ainda assim, perseguia a Jesus, será que nós, milhares de anos depois, também não estamos correndo o mesmo risco?! Pessoas religiosas, comprometidas com suas igrejas, ministérios, estruturas e tradições são um grande potencial para anunciar ao Jesus Cristo, filho de Deus, Salvador, ou para perseguir a este mesmo Jesus.

Perseguimos a Jesus mesmo dentro de um contexto religioso quando nossas atitudes frente à religião são diferentes e até opostas ao nosso comportamento em outros ambientes (o que chamamos mais frequentemente de “vida dupla” ou “mau testemunho”). É o indivíduo “duas-caras”, falso, aproveitador que encontra na religião possibilidade de reconhecimento e detenção de poder e, por isso mesmo, encarna um personagem que não condiz com a sua realidade de vida fora das quatro paredes do meio religioso (sendo, por exemplo, um pai irado, um filho mentiroso, um patrão desonesto, um amigo mulherengo, um sonegador fiscal, um namorado que trai). Mas faz isso tão bem que ninguém percebe, e este pensa até mesmo que pode esconder esta mentira do nosso Senhor.
Perseguimos a Jesus, também, quando usamos a religião para ligar Deus às pessoas e não as pessoas a Deus. A própria palavra religião tem o significado de “religar”, e o que quero dizer com a afirmação anterior é que as pessoas ligadas a Deus andam no traçado de Deus. Deus ligado às pessoas anda nos passos delas. É como um cachorrinho preso a uma coleira, e muitas vezes nesta ligação, queremos estar com a mão na coleira. Ou seja, aprisionamos Deus dizendo o que Ele pode ou não fazer, o que é certo ou não Ele realizar, usando da mesma indignação dos fariseus contra Jesus quando diziam: ele pensa que é Deus para dizer isso ou fazer aquilo?! Nossa mentalidade manipuladora congela nossos corações, mentes e fé para dizer às pessoas o que elas têm que fazer, utilizando técnicas de adestramento e robotização, impedindo-as de caminhar com liberdade na presença de Deus, pois eternizamos os métodos, as estruturas e a nossa maneira de fazer as coisas em detrimento do respeito ao indivíduo e à ação do Espírito Santo.

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